O conceito de "quiet quitting" tem ganhado destaque no mundo corporativo. De acordo com o último relatório sobre o ambiente de trabalho global, realizado pela Gallup, 59% dos funcionários no mundo estão "quiet quitting" - ou seja, estão presentes fisicamente, mas desengajados mentalmente. Isso representa a maioria da força de trabalho global, que se sente desconectada das empresas, contando os minutos para o fim do expediente e permanecendo apenas para garantir o salário no final do mês.
Esse fenômeno não é exclusividade de um país; o estudo foi feito em 160 nações, incluindo o Brasil, onde os índices seguem a média global. No Brasil, o engajamento dos empregados é de apenas 28%, um pouco acima da média global de 23%, mas ainda muito baixo para gerar um ambiente de trabalho satisfatório e produtivo.
O Custo do Desengajamento
A Gallup estima que o desengajamento dos funcionários gera um prejuízo de U$8,8 bilhões à economia global, equivalente a 9% do PIB. A pesquisa também revela que 85% das respostas dadas pelos "quiet quitters" sobre como melhorar o ambiente de trabalho focaram em aspectos de engajamento e cultura. Entre as sugestões, destacam-se o reconhecimento do trabalho, líderes mais acessíveis, estímulo à criatividade, respeito e oportunidades justas de crescimento.
Essas respostas revelam que o desengajamento no trabalho não se deve apenas a aspectos financeiros ou operacionais, mas também à falta de significado. Quando os funcionários sentem que fazem parte de algo maior, como contribuir para um ambiente limpo em um restaurante ou participar da construção de um espaço de valor, a visão sobre o trabalho muda. Esse significado e propósito podem transformar a experiência de trabalho, dando um sentido maior às atividades diárias.
Propósito: Um Guia Desde os Primórdios
Desde os primórdios da humanidade, o propósito serve como guia, oferecendo inspiração e incentivando a busca por algo maior. Na gestão empresarial, o conceito ganhou força com os estudos dos professores Christopher Bartlett e Sumantra Ghoshal. Em 1994, eles publicaram o artigo "Changing the Role of Top Management: Beyond Strategy to Purpose" na Harvard Business Review, onde afirmam que “o propósito – e não a estratégia – é a razão pela qual uma organização existe”.
O propósito não só fortalece as relações no ambiente de trabalho, como também representa uma vantagem competitiva. As novas gerações, em especial, buscam um significado em suas atividades diárias e, para elas, uma conexão profunda com o propósito da empresa é essencial. Essas gerações não estão apenas interessadas em cumprir tarefas, mas em fazer parte de algo maior, o que exige das empresas e dos líderes um olhar mais humano e voltado para a missão organizacional.
O Papel Crucial da Liderança
Os dados da Gallup apontam que 70% do engajamento das equipes depende dos gestores. Entretanto, muitos gestores também estão se "demitindo silenciosamente", desengajados de suas próprias tarefas de liderança. Uma das razões para isso é que, muitas vezes, esses gestores foram promovidos por serem bons executores, mas não foram preparados para liderar pessoas. A liderança vai além de entregar tarefas; é sobre guiar, inspirar e conectar os membros da equipe com o propósito da organização.
Em seu livro "Líderes se Servem por Último", Simon Sinek reforça essa ideia, argumentando que “não é o cargo que torna alguém um líder”. Para ele, liderança é servir aos outros, independentemente do título. Ele acredita que empresas de sucesso são aquelas que inspiram pessoas por meio de um propósito significativo, promovendo lealdade e engajamento genuíno.
Como Encontrar o Propósito e Criar Engajamento
Para encontrar o propósito e gerar um ambiente de trabalho mais conectado e produtivo, é essencial que líderes e organizações trabalhem juntos. Investir na promoção de um propósito significativo traz benefícios reais para a empresa: aumenta a produtividade, fortalece a reputação e torna a marca empregadora mais atrativa. Profissionais que sentem que seu trabalho tem um propósito tendem a ser mais criativos, satisfeitos e fiéis, permanecendo mais tempo na empresa e contribuindo para um ambiente de trabalho harmonioso.
Mas há desafios nesse caminho. A empresa precisa lidar com resistências, como a pressão psicológica, a falta de clareza nas metas organizacionais e ambientes tóxicos. Para superar essas barreiras, a liderança deve estar preparada e comprometida em criar um ambiente onde o propósito seja claro e acessível a todos.
Assim, ao promover um propósito claro e verdadeiro, a empresa não só retém talentos como também constrói uma cultura organizacional forte e uma vantagem competitiva duradoura no mercado atual.
Fontes
Gallup. (Relatório sobre o ambiente de trabalho global)
Harvard Business Review, Bartlett, C., & Ghoshal, S. (1994). "Changing the Role of Top Management: Beyond Strategy to Purpose".
Simon Sinek. "Líderes se Servem por Último".
Trouxemos aqui um pouco desse tema que possui um impacto significativo do propósito no trabalho, mostrando que ele é uma força poderosa para a gestão de engajamento e sucesso no ambiente corporativo.
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